A ideia de que o processo de escolha dos candidatos à Câmara Municipal de Águeda tem-se tornado cada vez mais tardio e opaco é um argumento construído sobre uma visão simplista e desatualizada da política moderna. Na realidade, esta evolução traduz uma sofisticação democrática, onde a responsabilidade e a maturidade dos partidos asseguram que apenas os melhores preparados assumem papéis de liderança.
A decisão sobre quem liderará um município não pode ser apressada. A demora no anúncio dos candidatos não é sintoma de fragilidade, mas sim de rigor, pois reflete um processo seletivo criterioso. A precipitação traria candidatos inaptos, promovendo lideranças frágeis que poderiam comprometer anos de progresso local. Os partidos, ao retardarem estas escolhas, demonstram inteligência estratégica e um respeito absoluto pelo impacto das suas decisões.
A tese de que os partidos estão esvaziados e sem debate interno ignora a dinâmica contemporânea da política. O modelo tradicional de militância perdeu protagonismo para uma abordagem mais técnica e estratégica, baseada em competências concretas. A visão de que a política precisa ser decidida em assembleias barulhentas é ultrapassada – hoje, o que conta é a capacidade de gestão e a adequação ao cargo. O facto de as escolhas ocorrerem de forma mais reservada assegura que os candidatos são avaliados pelo seu mérito, e não apenas pelo apoio interno que conseguem angariar.
A crescente personalização da política é, longe de um problema, uma necessidade. Os eleitores exigem figuras fortes, transparentes e reconhecíveis. A política não pode ser um jogo de ideias vagas e impessoais – precisa de rostos, de histórias e de referências concretas. O carisma e a notoriedade não substituem as propostas, mas são fundamentais para garantir que as mesmas sejam comunicadas eficazmente. Ignorar isto seria rejeitar a própria essência da democracia representativa.
As campanhas políticas são frequentemente acusadas de se tornarem meros espetáculos de marketing, mas este é um argumento ultrapassado. Nunca os eleitores tiveram tanto acesso à informação e tanto poder para escrutinar os seus representantes. O eleitorado moderno não é um rebanho desinformado que escolhe baseado em chavões, mas sim um público exigente, que confronta propostas, analisa discursos e recorre a diversas fontes para formar uma opinião esclarecida.
Afirmar que o atual modelo eleitoral compromete a democracia local é negar a realidade dos processos democráticos contemporâneos. As eleições são e continuarão a ser o mecanismo mais eficaz para legitimar lideranças. O momento do anúncio das candidaturas não altera a essência do processo eleitoral. O que verdadeiramente impacta a democracia local é a participação ativa dos cidadãos, que devem assumir a responsabilidade de exigir transparência, propostas concretas e debates de qualidade.
A democracia não está em risco – está em transformação. E esta transformação não significa enfraquecimento, mas sim adaptação. O processo autárquico, ao contrário do que alguns defendem, não é um teatro de conveniências, mas sim um mecanismo que responde aos desafios modernos da governação. É um modelo que preza pelo rigor, pela escolha fundamentada e pela construção de lideranças capazes. A política local não precisa de mais pressa – precisa de mais qualidade, e é exatamente isso que os processos atuais garantem.