“Águeda vai crescer — e muito”: Jorge Almeida abre o cofre das decisões para o último mandato, da ligação a Aveiro ao Green Leaf 2026

Reeleito com o que considera ter sido “uma vitória estrondosa” — Câmara e Assembleia Municipal conquistadas e apenas uma junta de freguesia fora do arco vencedor — Jorge Almeida entra no terceiro e último mandato a prometer obra feita, método e responsabilidade.

Numa entrevista exclusiva à TVC/Notícias de Águeda, conduzida no programa “Na Primeira Pessoa”, o autarca traça, com detalhe raro, a carta de navegação para quatro anos que quer determinantes: concluir a ligação Águeda–Aveiro e preparar a cidade para a nova centralidade logística; acelerar a requalificação escolar com a Adolfo Portela à cabeça; proteger o comércio local com o novo Mercado Municipal e a reordenação da Avenida 25 de Abril; qualificar a resposta em saúde e proteção civil; e, sobretudo, transformar 2026 — ano em que Águeda ostentará o selo European Green Leafnuma montra europeia de sustentabilidade, inovação e qualidade de vida.

“Não foi surpresa ganharmos; surpreenderam foram os números. É um voto de confiança que nos aumenta a responsabilidade. Quero uma equipa coesa, trabalhadora e focada em resultados.” O presidente aproveitou ainda para agradecer à TVC “o trabalho informativo exemplar” na noite eleitoral.

O método, diz, é claro: pensamento estratégico, benchmarking sem complexos e execução antecipada. “O que temos é para partilhar. Aprendemos com quem faz bem e adaptamos ao nosso território.”

A peça central do mandato é a ligação rodoviária Águeda–Aveiro. “No primeiro dia do meu primeiro mandato disse que tinha de a resolver. Hoje, os terrenos estão praticamente todos adquiridos e a empreitada avança.” Não é apenas uma via, é um salto de escala: “Águeda vai ficar mais competitiva e agradável para viver e investir. Temos de nos transfigurar nos acessos, na mobilidade e no transporte público para que, quando a via abrir, a cidade já a esteja a receber em pleno.”

O autarca garante que a construção privada já está a responder“há mais prédios a iniciar” — e que investidores que acreditaram na ligação estão a executar projetos. “Seremos uma grande alternativa de qualidade na região, suportada por infraestruturas, educação e uma rede social (as nossas IPSS) que é referência.”

Na educação, o dossiê maior é a Escola Secundária Adolfo Portela. “O projeto está praticamente concluído, com estudos geotécnicos atualizados. É uma remodelação superior a 15 milhões de euros, uma grande obra para uma grande escola, integrada nos níveis de prioridade do mapeamento nacional.” Em Aguada de Baixo, o concurso para remodelação e ampliação “sai nas próximas semanas”; em Travassô, a solução virou para escola nova após a possibilidade de cedência de um terreno melhor localizado. “Escolas que estavam destinadas a encerrar foram reavaliadas para crescer e manter atividade. O arranque do ano letivo decorreu sem sobressaltos — isso diz muito do acompanhamento municipal.”

Sobre o encerramento do Catraio, Jorge Almeida é taxativo: “Foi uma decisão interna da IPSS, formal em Assembleia. A nossa prioridade foi acomodar as crianças nas respostas existentes — e fizemos-no.”

A saúde é uma das suas prioridades permanentes e ponto de honra nas conversações com o Ministério da Saúde e a ULS de Aveiro. O presidente rejeita municipalizar o hospital — “seria mau sinal” — e pede fim à dependência de prestações avulsas em urgência: “A última porta a fechar é a urgência. O SNS tem de contratar para necessidades permanentes, com hierarquia e carreiras atrativas, premiando desempenho e melhorando a produtividade dos blocos operatórios.”

Entretanto, chegam equipamentos de última geração ao Hospital de Águeda: “Estão a montar os novos aparelhos de radiologia/TAC.”

No plano económico e urbano, Águeda prepara a época natalícia “com alegria na rua, luzes bonitas, o Lago de Natal e gente de todo o país e do estrangeiro”, porque “uma cidade sem comércio não é cidade”. O novo Mercado Municipal é a âncora dessa estratégia. “Ontem saiu a grua; entrámos em acabamentos. As escadas rolantes tiveram atraso de fornecimento, mas chegam a tempo. Queremos abrir antes da Páscoa. Será polo turístico e montra do produto local: peixe fresco, carne de altíssima qualidade, hortícolas dos nossos produtores.”

E quanto à concorrência das grandes superfícies? “O PDM de 2012 permite até seis pisos naquela zona; prefiro comércio organizado a densidades residenciais desajustadas. Com qualidade, a concorrência faz bem: quem compra detergente no hiper vem buscar peixe e alfaces ao Mercado.”

A Avenida 25 de Abril terá empreitada retomada quando as vedações do Mercado saírem: mais estacionamento, passeios desimpedidos, vias mais fluidas e fim do separador central para que, mesmo em sábado de filas, os Bombeiros tenham saída livre. “Haverá incómodos, como sempre; mas no fim todos dirão: já devia ter sido feito há 10, 20, 30 anos.” O mesmo aviso fica para a obra do centro urbano de Fermentelos, prestes a arrancar.

Na proteção civil e floresta, a estratégia é dupla: décadas de trabalho silencioso na paisagem e meios de combate à altura já hoje. “Depois de 2017, temos de proteger as aldeias e criar bons exemplos replicáveis, com os proprietários dentro do processo — a propriedade privada é constitucional e tem de ser respeitada. Se tudo correr bem, os resultados paisagísticos demoram décadas, mas o combate tem de estar robusto já.”

Águeda puxou pela Comunidade Intermunicipal e pela Câmara para reforçar frotas: “Chegaram dois veículos florestais de grande gabarito, vem aí mais um tanque. O combate não pode depender de máquinas com 40 anos.”

Na geografia política do concelho, o presidente responde ao temor de marginalização na União de Freguesias de Trofa, Segadães e Lamas do Vouga — a única junta não conquistada pelo movimento: “Não há marginalização. Ganhámos Câmara e Assembleia em todo o concelho. A regra é equidade e coerência: as juntas são tratadas por igual; projetos mais ambiciosos, alinhados com a estratégia municipal, têm apoio reforçado.”

Sobre a governabilidade, defende maiorias estáveis e condena “guerrilhas” e “obstáculos de secretaria” que descredibilizam a política local. Aplaude, como exemplo de sanidade democrática, a opção da oposição naquela União de Freguesias de viabilizar as propostas do executivo vitorioso: “Reconheceram a vitória e vão permitir governar — no fim o escrutínio será claro.”

Quanto à presidência da CIRA, assume disponibilidade “como qualquer um dos 11 presidentes”, mas só com confiança inequívoca dos pares: “Ou é consenso, ou assume quem estiver melhor posicionado.”

Uma correção importante no dossiê das marcas identitárias: a Festa do Leitão não acabou e a Câmara “apoiou todas as edições”. A primazia é da ACOAG, a associação comercial, mas o município já fala com assadores e parceiros para evitar surpresas como a deste ano: “Não vamos perder uma marca que é nossa. O melhor leitão do mundo é o de Águeda.”

Em 2026, Águeda ostentará o selo European Green Leaf, distinção da Comissão Europeia para cidades abaixo de 100 mil habitantes que se destacam em ambiente e sustentabilidade, alinhadas com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. “É a mais alta distinção de que me lembro para Águeda, um reconhecimento do caminho feito.”

O arranque oficial está a ser fechado com Bruxelas para 8 de janeiro de 2026, e o plano é um ano inteiro de projetos, visitas e portas abertas, com efeito de alavanca em candidaturas e parcerias internacionais: “Somos ótima companhia para projetos europeus — ganha Águeda, ganha Portugal, ganha a Europa.”

Entre as novidades, destaca-se o Parque Ambiental Urbano, que ligará a Alta Vila ao rio e aos campos, renaturalizando e devolvendo a paisagem às pessoas: “Queremos um modelo de reabilitação respeitador do rio e das cheias, identitário e pedagógico.”

No registo humano, Jorge Almeida rejeita triunfalismos e sublinha o respeito pelos adversários. “Fizemos festa, mas contida e respeitosa. Sou presidente de todos os aguedenses.” Pede à oposição “menos ruído e mais construção”, começando pelo tom e pela humildade de incorporar boas ideias, venham de onde vierem.

E deixa as frases que ficarão para memória do mandato: “Antes do fim, quero ver a ligação a Aveiro como realidade — e a cidade pronta para a receber.” / “A urgência é a última porta a fechar.” / “O Mercado abrirá antes da Páscoa e será a sala de visitas do comércio local.” / “O Green Leaf é responsabilidade e oportunidade — 2026 será o nosso ano.”

Quando lhe perguntam o que lhe disseram os olhos na noite da vitória, responde com sobriedade: “Tenho uma responsabilidade ainda maior.” E acrescenta, como quem regressa ao trabalho no minuto seguinte: “Vamos crescer — e vamos crescer mesmo.”

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