A ABIMOTA – Associação Nacional das Indústrias de Duas Rodas, Ferragens, Mobiliário e Atividades Complementares está a liderar um conjunto de entidades nacionais que exige ao Governo a revisão profunda do Plano Social para o Clima (PSC) 2026-2032, defendendo que a proposta ignora soluções decisivas para combater a pobreza de mobilidade.
O contributo conjunto, submetido no âmbito da consulta pública, sublinha que a mobilidade ativa — andar a pé e de bicicleta — e o transporte público são os modos mais acessíveis, inclusivos e sustentáveis, mas praticamente não têm expressão no documento atualmente em avaliação.
Segundo a ABIMOTA e as restantes entidades subscritoras, o PSC concentra a quase totalidade das medidas e fundos de apoio na aquisição de veículos elétricos, negligenciando alternativas capazes de reduzir desigualdades, melhorar o acesso a serviços essenciais e promover cidades mais saudáveis.
Portugal produz bicicletas — mas quase não investe nelas
A ABIMOTA destaca ainda um paradoxo evidente: Portugal é o líder europeu na produção de bicicletas, mas permanece entre os países que menos investem em infraestrutura ciclável. Para a associação sediada em Águeda, esta ausência de estratégia representa uma oportunidade perdida para a indústria nacional, para a descarbonização e para a justiça social.
O contributo lembra que a pobreza de mobilidade não resulta da falta de automóveis, mas da ausência de opções viáveis que permitam chegar ao trabalho, à escola, a serviços públicos ou às interfaces de transporte.
Bicicleta continua essencial fora dos grandes centros
De acordo com os dados citados no documento, vários concelhos periurbanos e rurais — como Murtosa, Ílhavo, Estarreja, Vagos ou Marinha Grande — continuam entre os que mais utilizam a bicicleta no dia a dia. Por outro lado, Lisboa e Porto registam o maior crescimento, resultado direto do investimento em ciclovias e condições de segurança.
A ABIMOTA sublinha que ignorar estas tendências seria “uma trágica perda de oportunidade” para acelerar a transição modal em Portugal.
Cidades sem passeios e ciclovias criam exclusão
O documento alerta que a ausência de passeios, ligações pedonais e ciclovias seguras obriga milhares de pessoas — incluindo estudantes, trabalhadores e idosos — a depender do automóvel particular. Esta dependência agrava custos, emissões, congestionamento e problemas de saúde pública, como sedentarismo e doenças cardiovasculares.
Cinco propostas-chave lideradas pela ABIMOTA
A associação e os restantes subscritores apresentam cinco medidas essenciais a integrar no PSC:
- Reconhecimento dos grupos vulneráveis sem acesso a automóvel, conforme orientações da Comissão Europeia.
- Reforço significativo do financiamento à mobilidade ativa, incluindo passeios, ciclovias, frentes escolares e interligações com o transporte público.
- Aposta em soluções inovadoras para territórios de baixa densidade, como o transporte público a pedido.
- Valorização estratégica da indústria nacional de bicicletas, articulando políticas sociais, ambientais e industriais.
- Promoção de medidas integradas que reduzam a dependência do automóvel, garantindo maior justiça social e coesão territorial.
Um apelo claro ao Governo
Para a ABIMOTA, a verdadeira transição justa só será alcançada quando todos os cidadãos — independentemente da idade, localização ou condição económica — puderem deslocar-se com conforto, segurança e baixo impacto ambiental, sem depender obrigatoriamente do carro.
O documento é subscrito por mais de uma dezena de organizações nacionais ligadas à mobilidade, ambiente, segurança rodoviária e cidadania.

