A Banda Marcial de Fermentelos comemorou este sábado, 25 de outubro, 157 anos de existência ininterrupta, num programa que juntou memória, homenagem, cultura e uma forte demonstração do vigor associativo da comunidade fermentelense.
As celebrações tiveram início às 15h00 com o hastear das bandeiras na sede da instituição, momento simbólico que marcou o arranque oficial de um dia vivido com grande significado para músicos, direção, famílias e população. Seguiu-se a romagem ao cemitério paroquial, onde foram recordados e homenageados todos aqueles que, ao longo de mais de um século e meio, contribuíram para o crescimento e prestígio da coletividade. Às 16h30, decorreu na Igreja Matriz de Fermentelos a Missa de Ação de Graças e por sufrágio de associados, dirigentes, maestros e executantes já falecidos, num ambiente marcado pela solenidade, respeito e gratidão. O ponto alto do programa foi o tradicional Concerto de Aniversário, às 18h00, que encheu por completo o auditório da sede social.
“A Ramboia está viva, está cada vez mais jovem”
O presidente da direção, que abriu oficialmente o concerto festivo, expressou enorme orgulho nesta data histórica, reforçando a emoção de celebrar 157 anos de um projeto coletivo que tem atravessado gerações.
“Hoje é um dia grande, um dia de festa. É um dia que vivemos com as nossas famílias, os nossos amigos, e também com a comunicação social que faz o favor de estar aqui para divulgar aquilo que temos de melhor: a música”, afirmou. Reconhecendo o renovado entusiasmo em torno da instituição, destacou a juventude como motivo de esperança e prova de vitalidade:
“Esta sala peca por ser pequena. Se estivéssemos numa sala para 500 ou 600 pessoas, estaria igualmente cheia. Isso mostra que a Ramboia está viva, cada vez mais jovem. Vamos apresentar 12 novos músicos que começaram a fazer parte da banda. Numa altura difícil para cativar jovens para a aprendizagem musical, temos feito um caminho extraordinário, muito focado nos objetivos da nossa Banda e na construção do futuro.”
O dirigente deixou ainda uma mensagem especial ao povo de Fermentelos e aos músicos: “Nunca desistam. Fazer música em Fermentelos, nomeadamente na Banda Marcial, é uma forma diferente de estar na vida: é cultura, é identidade, é pertença.”
Jorge Almeida: “É um orgulho muito grande ver uma casa com esta história e tanta juventude”
O presidente da Câmara Municipal de Águeda, Jorge Almeida, fez questão de marcar presença e sublinhou o simbolismo deste aniversário para a cultura do concelho.
Recordou que a Banda Marcial de Fermentelos é “uma das associações mais antigas do concelho e, entre as bandas, a mais antiga de todas”. Acrescentou que o número de pessoas presentes e o carinho demonstrado ilustram bem o sentimento da comunidade:
“É fácil vermos a quantidade de pessoas que se sentem comprometidas com a Banda, que a acompanham, que a sentem como sua. E há algo extraordinário: uma casa com tanta história conseguir ter tanta juventude é fantástico.”
Sobre o concerto, mostrou-se visivelmente emocionado:
“Sinto um orgulho muito grande, até pela qualidade musical. Não sou entendido, mas ouço os entendidos, e percebemos que estamos perante executantes com uma qualidade muito elevada. Estas casas são escolas de formação – de músicos, mas também de pessoas.”
O autarca salientou ainda um traço essencial que considera inspirador: o espírito de voluntariado e dedicação que mantém a associação viva. Destacou o exemplo dos muitos voluntários que trabalham apenas “pelo gosto de servir a Banda”, desde cozinheiros a colaboradores que tornam possível cada evento, reforçando que o contributo de muitos é o que permite que a história continue.
“Todo o apoio é pouco. O bairrismo, o amor à terra, à música e ao associativismo são a razão pela qual estas casas se mantêm vivas. Ter uma Banda com esta longevidade é um orgulho enorme para o concelho.”
Filipe Almeida: “157 anos só são possíveis com um amor profundo à cultura e à coletividade”
O presidente da Assembleia Municipal de Águeda, Filipe Almeida, reforçou a importância histórica da Banda Marcial, lembrando que se trata da associação mais antiga do concelho — e com uma vitalidade exemplar.
“A Marcial, a Ramboia, é a associação mais antiga do concelho e mantém uma jovialidade enorme. Ver tantos músicos jovens nesta casa demonstra a força e o futuro desta Banda.”
Sublinhou que a continuidade ininterrupta da atividade ao longo de 157 anos é “um feito histórico que merece reflexão”, sobretudo quando se imagina o contexto da época em que foi fundada:
“Para perceber o valor deste percurso, temos de nos transportar 157 anos atrás e imaginar o que era então Fermentelos. Era preciso ser inovador e extraordinariamente altruísta para criar uma banda nesta terra e mantê-la viva geração após geração.”
Para o autarca, a cultura do concelho também sai valorizada: “Quando mantemos seis bandas filarmónicas ativas no concelho, estamos todos de parabéns. É sinal de empenho coletivo, de cultura viva e de educação através da música.”
Carlos Lemos: “Somos simplesmente diferentes. A música é a nossa essência”
O presidente da Junta de Freguesia de Fermentelos, Carlos Lemos, também presente, destacou a qualidade artística do concerto e a forma como Fermentelos vive a música:
“Assistimos a um concerto magnífico, de extrema qualidade. Isto é Fermentelos: nesta terra, as associações têm sempre uma moldura humana enorme nos seus aniversários. Não somos melhores nem piores. Somos simplesmente diferentes – e esta é a nossa maneira de estar.”
Sublinhou que a identidade cultural da vila está intimamente ligada à música e que o título “Vila da Música” assenta precisamente na força das suas instituições musicais:
“Temos duas grandes bandas, um grupo coral, compositores e maestros espalhados pelo país e pelo estrangeiro. A música faz parte da nossa cultura e do nosso povo.”
Deixou uma mensagem de reconhecimento a todos os que contribuem para o prestígio da Banda: maestro, direção, músicos e voluntários, frisando que a Banda Marcial é uma referência a nível nacional.
Maestro Hugo Oliveira: “O futuro está garantido. É um orgulho partilhar o palco com estes músicos”
O maestro Hugo Oliveira, que dirige a Banda Marcial há quase 16 anos, mostrou-se emocionado com a energia vivida neste aniversário.
“O futuro da Banda está garantido. Vale a pena todo o trabalho de ensaios, toda a dedicação. Ver esta casa cheia é o maior reconhecimento que podemos ter.”
Destacou que não é comum uma vila portuguesa ter duas bandas filarmónicas com o nível artístico de Fermentelos, e atribuiu essa força ao modo como a comunidade vive o associativismo:
“Isto é o reflexo de uma terra que vive as coletividades. É um privilégio sentir o carinho e acolhimento da população. Estou cá há quase 16 anos, venho um pouco mais do Norte, mas sinto-me cada vez mais fermentolense.”
Questionado sobre o que nunca tinha dito aos seus músicos, deixou uma mensagem com forte carga emocional:
“É um prazer enorme, um gosto muito grande e um orgulho para mim que eles me deixem partilhar o palco com eles.”