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A política e os locais institucionais apropriados

A política é um campo que exige um espaço de reflexão, debate e tomada de decisões estruturado e institucionalizado.

Os lugares apropriados para a política, conforme a visão de muitos, são os espaços institucionais e governamentais, onde existem regras e processos formais, como o parlamento, as câmaras municipais, as assembleias de freguesia e outros órgãos oficiais de deliberação política.

Esses locais caracterizam-se pela presença de representantes eleitos, que atuam com mandato democrático e, por isso, têm um compromisso com a responsabilidade pública e a defesa do interesse coletivo.

A política formal segue um conjunto de normas que orientam a gestão de recursos públicos, a criação de leis e políticas públicas, a mediação de conflitos sociais e a definição de ações estratégicas para o desenvolvimento da sociedade.

Esses espaços não apenas legitimam as decisões políticas, mas também permitem um grau de responsabilização pública que as redes sociais não conseguem proporcionar.

Nesses locais, a política é construída por meio de debates amplos, envolvendo diferentes agentes sociais, partidos, especialistas e cidadãos, e passa por um processo de deliberação e regulamentação que assegura que as decisões sejam tomadas com base na análise, na reflexão crítica e, fundamentalmente, na observância da legalidade e dos direitos constitucionais.

Redes sociais: espaços de opinião, mas não de decisão

Por outro lado, as redes sociais surgiram como plataformas digitais que permitem a livre expressão de opiniões, o que é positivo para a democratização do acesso à informação e ao debate.

Elas têm a capacidade de amplificar a voz de milhões de pessoas, criar movimentos sociais e permitir que indivíduos se mobilizem em torno de causas.

No entanto, é importante distinguir entre o espaço de debate público e o espaço de decisão política.

Nas redes sociais, o debate é muitas vezes dominado pela instantaneidade e pela busca por atenção.

A comunicação nesses espaços tende a ser superficial, com argumentos apresentados de forma fragmentada, sem a profundidade e a análise necessárias para um entendimento completo dos problemas e das soluções.

As discussões frequentemente não levam em consideração as complexidades das questões políticas e sociais, mas apelam para o sensacionalismo ou a polarização, enfraquecendo a qualidade do debate.

Além disso, a grande quantidade de informação disseminada nas redes sociais nem sempre é verificada ou fundamentada. Isso cria um ambiente propício para a desinformação e as fake news, que acabam por distorcer a realidade política e social.

A rapidez com que as informações circulam nesses meios também dificulta a reflexão profunda, essencial para a construção de políticas públicas eficazes.

Uma crítica à superficialidade e ao maniqueísmo

Um dos maiores problemas da política praticada nas redes sociais é a tendência à simplificação excessiva dos problemas.

Questões complexas, que envolvem várias dimensões, como a economia, a saúde, a educação ou a justiça social, são frequentemente reduzidas a bandeiras ou lutas que não refletem toda a complexidade dos desafios que encerram.

A polarização política, que transforma o debate num confronto entre lados opostos, contribui para a fragmentação da discussão e a incapacidade de se chegar a consensos construtivos.

Nas redes sociais, o discurso tende a ser binário, ou seja, divide-se entre os bons e os maus, entre aqueles que têm razão e aqueles que estão errados.

Esse tipo de abordagem não é adequado para a política, que, por definição, deve ser uma prática de construção de soluções por meio do diálogo e da negociação entre diferentes pontos de vista.

As redes sociais, em vez de promoverem o entendimento mútuo, frequentemente intensificam os conflitos e criam uma atmosfera de confrontação.

A falta de responsabilidade e a impunidade nas redes sociais

Outro aspeto que deve ser considerado é a ausência de mecanismos formais de responsabilização nas redes sociais.

Embora as plataformas digitais possuam políticas de moderação, estas não têm o mesmo rigor e efetividade dos sistemas legais e judiciais que regem os espaços institucionais de tomada de decisão política.

Nas redes sociais, discursos radicais e irresponsáveis frequentemente não são sujeitos a consequências diretas, o que pode resultar na difusão de desinformação e na criação de um ambiente tóxico que distorce a perceção pública dos temas políticos.

As plataformas digitais não têm capacidade para garantir que as informações que circulam sejam verdadeiras e baseadas em evidências, o que leva à propagação de mitos, estereótipos e narrativas falsificadas, que podem ter sérios impactos nas decisões políticas reais.

Em contraste, nos espaços institucionais, a responsabilidade é central.

Os políticos são eleitos para representar o interesse público, e suas ações são monitoradas por mecanismos legais, como a fiscalização do Tribunal de Contas, investigações parlamentares e o direito dos cidadãos de questionar suas escolhas através da participação democrática.

As instituições políticas, por serem fundamentadas num sistema jurídico e normativo, asseguram um controlo muito maior sobre os processos de tomada de decisão.

Conclusão: o valor dos espaços institucionais e os limites das redes sociais

Em última análise, a política precisa ser feita em espaços que permitam uma deliberação séria e responsável, onde os processos de decisão sejam regidos pela legalidade, pela ética e pelo interesse público.

Enquanto as redes sociais são importantes para promover a discussão política, sensibilizar para causas sociais e mobilizar a sociedade, elas não são adequadas para a construção de políticas públicas, que exigem análise profunda, discussão plural e compromisso com os princípios democráticos.

Os lugares próprios para a política são os locais formais, onde os mecanismos de controlo e transparência garantem que as decisões sejam tomadas de maneira justa, responsável e com base no melhor interesse da sociedade.

As redes sociais, por sua natureza, devem ser vistas como um espaço de opinião e expressão, não como um substituto para a política institucionalizada e processada com os devidos cuidados.

O verdadeiro desafio reside em saber equilibrar o uso das redes sociais como ferramentas de envolvimento e mobilização, sem permitir que se substituam ao trabalho sério e estruturado da política formal.

E mais não digo…

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