Há pessoas que entram no mundo em silêncio, e outras que chegam como um sussurro capaz de abalar consciências. Papa Francisco não veio com pompa, não precisou de tronos dourados nem palavras difíceis para tocar os corações. Veio com um olhar doce, um sorriso humilde e uma força interior que não se impõe[,] [mas] transforma.
Quando apareceu pela primeira vez na varanda do Vaticano, não parecia um Papa. Parecia um avô bondoso que acabava de chegar à nossa casa. Pediu-nos que rezássemos por ele, antes sequer de nos abençoar. E nesse gesto, tão simples e tão puro, muitos perceberam que algo tinha mudado.
Francisco é diferente. É o Papa que prefere sapatos gastos a vestes exuberantes. O que anda entre o povo, que escuta antes de falar. Que chora com os que sofrem. Que abraça sem medo os esquecidos do mundo. Que desafia o poder com a única arma que carrega: o amor.
Não é apenas líder de uma religião, é um pai para tantos que já não acreditavam em líderes, uma esperança para quem já tinha perdido a fé na humanidade. Com ele, a Igreja voltou a parecer uma casa aberta, e não um tribunal. Voltou a parecer um lugar de abrigo, e não de exclusão.
Francisco ensinou-nos que a humildade é uma força silenciosa, mas avassaladora. Que a verdadeira grandeza está em baixar-se para servir. Que é possível ser firme sem ser duro. Que o Evangelho não se prega só com palavras, mas com os gestos mais humanos: dar a mão, ouvir, cuidar, estar presente.

Ele falou-nos de migrantes, de pobreza, de ecologia, de misericórdia. Mas mais do que falar, fez. Lavou os pés aos esquecidos, acolheu os sem-abrigo, partilhou a mesa com quem o mundo costuma ignorar. E nesse testemunho vivo, ensinou-nos que mudar o mundo começa sempre por mudar o nosso olhar.
É impossível não se emocionar com a coragem serena de Francisco. Com a sua capacidade de ir contramarés e manter-se fiel ao que é certo, mesmo que seja difícil. Com a forma como nos lembra, dia após dia, que todos sem exceção temos valor, dignidade e direito a um lugar neste mundo.
E agora que partiu, tão inesperadamente, o silêncio que deixou é tão profundo quanto a sua presença foi luminosa. Partiu sem fazer alarde, como viveu[,] com a leveza dos justos e a paz de quem deu tudo. Mas deixou-nos tanto. Uma herança feita de palavras simples e gestos autênticos. De pontes construídas onde havia muros. De esperança semeada onde reinava o desânimo.

Sentimos a sua ausência como quem perde alguém da família. Porque, de alguma forma, todos nos sentíamos próximos dele. Todos nós reconhecíamos naquele olhar terno, naquela voz firme, mas cheia de compaixão. E agora, resta-nos honrar a sua memória, não apenas com lágrimas, mas com a continuação do caminho que nos apontou: o caminho do amor, do serviço, da humanidade.
Sim, Papa Francisco mudou o mundo. E mesmo depois da sua partida, continua a mudá-lo porque os seus gestos vivem em nós. Porque nos deixou mais conscientes, mais despertos, mais humanos. Porque nos ensinou, com a vida, que a bondade tem força. Que o Evangelho é ação. Que a fé é amor em movimento. Descanse em paz, Francisco. O mundo chora a tua partida…, mas também sorri por ter-te tido.
Eu choro a tua partida.
E mais não digo…