A secretária de Estado da Cultura anunciou que o governo está a ponderar a abertura do procedimento de classificação da Ponte Velha do Vouga como monumento de interesse nacional. Esta decisão, que reconhece os valores patrimoniais da estrutura, surge acompanhada de um plano para estabelecer parcerias com o município de Águeda, a Universidade de Coimbra e a Universidade de Aveiro. O objetivo é criar um plano de recuperação e valorização que permita reverter o estado de abandono em que a ponte se encontra.
Maria de Lurdes Craveiro sublinhou a importância de uma abordagem integrada e colaborativa para preservar este património histórico. “Pela via da conciliação, da abertura e do diálogo, estamos empenhados em garantir a proteção e a valorização deste imóvel, cuja relevância histórica é inquestionável”, afirmou a governante, destacando que já foi realizada uma primeira inspeção técnica à ponte em setembro deste ano. O governo admite, no entanto, que o processo de classificação poderá exigir tempo, dependendo da articulação entre as várias entidades envolvidas.
Histórico de indeferimentos dificulta avanço
Apesar das recentes garantias governamentais, o historial de decisões relacionadas com a Ponte Velha do Vouga demonstra que os obstáculos não são novos. Em 2022, um pedido de classificação foi rejeitado pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), com a justificação de que o processo dependia da existência prévia de um projeto estruturado de requalificação. Esta decisão foi mantida mesmo após um recurso hierárquico interposto por um professor da Universidade de Aveiro, que defendia a classificação como essencial para viabilizar a reabilitação. A então secretária de Estado da Cultura indeferiu o recurso, consolidando o entendimento da DGPC.
No ano seguinte, em 2023, a Assembleia da República discutiu uma proposta de resolução para a classificação da ponte como imóvel de interesse nacional. Contudo, mais uma vez, a ausência de um plano detalhado de requalificação foi apresentada como um entrave ao avanço do processo.
Parcerias como esperança para um futuro incerto
Agora, com a abertura anunciada pelo governo para desenvolver um plano de recuperação em conjunto com universidades e autoridades locais, a expectativa é que se encontrem soluções para superar as barreiras que têm travado o progresso. A colaboração com a Universidade de Coimbra e a Universidade de Aveiro é vista como um passo crucial para assegurar a viabilidade técnica e científica de um projeto que permita estabilizar a estrutura e recuperar o seu valor histórico.
A Ponte Velha do Vouga, construída no século XIII e amplamente documentada ao longo da história, foi uma peça-chave da Estrada Real entre Lisboa e Porto. Atualmente, encontra-se em estado de degradação avançada, com um pilar colapsado desde 2011. A falta de intervenções tem levantado preocupações sobre o risco de novas derrocadas, especialmente num cenário de instabilidade climática que pode acelerar o processo de deterioração.
A ponte como símbolo e desafio
Mais do que uma ligação física entre as freguesias de Lamas do Vouga e Macinhata do Vouga, a ponte representa um símbolo do património cultural e histórico do distrito de Aveiro. O seu abandono tem sido amplamente criticado, com vozes como a do deputado do PSD Paulo Cavaleiro a alertarem para a urgência de ações concretas. Segundo o parlamentar, “sabendo-se que o financiamento para a reabilitação de monumentos depende da sua prévia classificação, o atraso neste processo representa uma negligência para com um bem essencial da nossa identidade”.
Com as novas promessas de colaboração, cresce a esperança de que a Ponte Velha do Vouga finalmente recupere o destaque que merece no panorama nacional. Contudo, sem passos concretos para estabilizar a estrutura e garantir o financiamento necessário, o futuro deste marco histórico permanece incerto.