A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) anunciou uma intervenção de emergência nas linhas de água que afluem ao rio Vouga, com o objetivo de prevenir o arrastamento de terras e cinzas, após os devastadores incêndios que atingiram o Centro e Norte do país. O plano inclui a instalação de pequenos açudes de madeira para conter as cinzas que, com a chegada das chuvas, podem ser arrastadas para a bacia do Vouga, colocando em risco a qualidade da água captada no Carvoeiro, que abastece a região de Aveiro.
Pimenta Machado, presidente da APA, destacou a urgência da intervenção, frisando que as equipas técnicas já estão no terreno, em articulação com as autarquias de Albergaria-a-Velha, Águeda e Aveiro, para assegurar que as cinzas não cheguem às captações de água. “Vamos fazer uma intervenção de emergência para controlar o arrastamento das cinzas e proteger a qualidade da captação no Carvoeiro, que abastece uma vasta área de Aveiro”, afirmou o responsável durante uma reunião da Sub-comissão Regional da Zona Sul da Comissão de Gestão de Albufeiras, em Faro.
O impacto ambiental dos incêndios, que devastaram mais de 121 mil hectares de território, está agora no centro das atenções. Para além da tragédia humana, com sete mortos e 161 feridos, as autoridades enfrentam o desafio de mitigar as consequências ambientais das cinzas e dos detritos que, sem intervenção, poderão contaminar os cursos de água. Graça Carvalho, ministra do Ambiente e Energia, sublinhou que o governo está a realizar um levantamento exaustivo dos danos ambientais em parques naturais e zonas protegidas, bem como a monitorizar a situação dos resíduos depositados nos leitos de rios e ribeiros.
A colocação dos açudes de madeira nas linhas de água é uma medida provisória, mas crucial, para evitar que as chuvas intensas arrastem as cinzas e sedimentos resultantes dos incêndios para o rio Vouga. A APA está a coordenar este esforço com outras entidades, incluindo o Ministério da Coesão Territorial e os municípios locais, numa ação concertada para proteger os recursos hídricos.
Os incêndios, que afetaram gravemente os distritos de Aveiro, Porto, Vila Real, Braga, Viseu e Coimbra, resultaram não só em perdas humanas e materiais, como também em sérios riscos para a sustentabilidade ambiental. Em resposta, o Governo decretou a situação de calamidade pública, mobilizando recursos e declarando hoje um dia de luto nacional em memória das vítimas. A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) contabilizou cinco mortos diretamente atribuídos aos incêndios, excluindo da contagem dois civis que faleceram devido a doença súbita durante a crise.
Segundo o sistema europeu de monitorização Copernicus, cerca de 83% da área ardida em Portugal desde domingo corresponde a estas regiões do Norte e Centro, reforçando a necessidade de ações rápidas para conter os danos secundários que podem resultar da erosão do solo e da contaminação dos sistemas hídricos.
Enquanto as equipas da APA continuam a trabalhar no terreno para concretizar as ações de mitigação, Graça Carvalho afirmou que o acompanhamento da situação ambiental vai ser feito de perto, com um olhar atento não só nas intervenções urgentes, mas também nas ações de recuperação a longo prazo. O foco imediato, no entanto, permanece nas medidas para conter os efeitos mais devastadores das cinzas nas captações de água, essenciais para o abastecimento de milhares de pessoas na região de Aveiro e arredores.
Além disso, está em andamento uma “task-force” liderada pelo Ministério da Coesão Territorial, para fazer um levantamento exaustivo das necessidades de recuperação de infraestruturas e equipamentos que precisam de intervenção urgente. Essa ação coordenada entre diferentes ministérios e agências governamentais reforça o compromisso do governo em mitigar os impactos dos incêndios, tanto a nível humano quanto ambiental.
O cenário que o país enfrenta é particularmente grave, e o impacto sobre os cursos de água pode ser devastador se medidas rápidas não forem tomadas. A APA e os municípios afetados estão a mobilizar todos os recursos disponíveis para travar a progressão das cinzas e evitar uma contaminação em larga escala, enquanto o país lida com as consequências de um dos piores períodos de incêndios da última década.